Sunday Bloody Sunday {Aberta}

Londres estava quieta, engolindo os assassinatos que surgiam nos becos e dando destaque para os que apareciam em praça pública e sempre exibindo um péssimo desgosto com aquilo que havia criado.

Na manhã  – ou talvez na próxima  manhã – os jornais contariam com mais um crime terrível no lado Sul da Tower Bridge, mas por enquanto, até o vento permanecia quieto para dar passagem a um ser das trevas.

A vampira, que havia saído de uma caçada,  andava em passos rápidos em seus míseros saltos. Carregava nas costas uma marreta que seria pesada para qualquer humano, mas que ela carregava como se fosse uma pena; Os lábios vermelhos pareciam ser ofuscados pelo vermelho de suas suas luvas manchadas de sangue, a morte ainda estava recente; No celular velho, porém eficiente, uma mensagem já havia sido enviada: “Trabalho Feito e limpo”, o que era uma mentira.  

Ela sentia o sangue, que antes fora quente, esfriando e formando pequenos coágulos dentro de sua luva e mesmo sendo uma vampira, aquele sangue tornando-se velho e frio era repulsivo. Mas ninguém a notava, ninguém queria perceber. Todos estavam ocupados de mais para viver suas vidas, pois ao contrário da dela, elas podem acabar extremamente cedo.

“LADO NORTE “

A placa exibia seu conteúdo em letras brilhantes e o lado Norte exibia outro ser na beira do local. Interessante. Pensou a oriental, indo em direção a aquilo que julgava ser uma companheira de calvário.

Derrubou sua ferramenta de trabalho ao lado da mulher, sendo que este apenas fez um baque surdo e sútil, arregaçou as mangas de sua jaqueta e puxou do bolso um Charuto Havano velho e um pouco amassado. – Fogo. – Disse com um exímio sotaque britânico colocando o velho charuto no canto da boca. Aquilo não era seu, igualmente ao anel de ouro em anelar esquerdo que permanecia escondido pela velha luva. Aquilo foi a lembrança de alguém, e uma pequena recompensa para ela.

  O cheiro doce do cigarro da mulher ao lado se misturava com o cheiro cruel e ruim do charuto cubano. O gosto lembrava terra, horrível. Mas mesmo assim Miu continuava com ele na boca, meio para o lado, saboreando-o com delicadeza pois sabia que lá no fundo havia um gosto que ela conhecia bem e mesmo assim nunca enjoava, o sabor da vitória.

As mãos pegajosas e já secas a incomodavam. Com uma rapidez assombrosa para um humano as retirou, deixando a mostra suas mãos sujas.  - Não sei gramática. - Respondeu pausadamente e jogou as luvas no rio. Virou-se então para as pessoas que passavam em seus carros  ao contrários na rua, poucos  e calmos. Retirou o charuto dos lábios e soltou a fumaça para cima, se apoiando na barricada.

 - Recebeu Cartas ?   - As palavras saíram apressadas, como se por algum motivo Miu houvesse se esquecido como se falasse, como  se sua mente fosse mais rápida do que os músculos. Seus pequenos olhos orientais se voltaram para a moça loira e em seus lábios surgiu apenas um sorriso  de canto meio sem sentido.